sábado, 13 de setembro de 2008

Bienal do Livro em São Paulo





Faz um bom tempo que não posto nada por aqui. O trabalho árduo, a faculdade puxada e vida de casado não me deixam muito tempo pra dedicar-me a essa humilde página como deveria. Nos raros momentos em que consigo respirar um pouco, escrevo para um novo espaço totalmente dedicado ao RPG e as aventuras de meu grupo de jogo. Minha atenção, por enquanto, permanecerá focada no novo blog, pelo menos até eu concluir os posts introdutórios (resumo da campanha, personagens, plots, perfil dos jogadores...), que servem para situar o ocasional leitor em nosso universo de jogo, e colocá-lo a par dos acontecimentos da trama. Terminada essa etapa inicial, o novo blog, o Altar de Selûne, contará com postagens quinzenais ou mensais que resumiram os eventos de cada sessão de jogo. Mas, de modo algum, isso significa que os Códices permanecerão encostados na prateleira empoeirada esperando que as traças os devorem. Para não deixar isso acontecer, hoje falarei um pouco sobre meu passeio na Bienal do Livro de São Paulo, no último dia 24 de agosto.

O diretório acadêmico da faculdade em que estudo organizou uma excursão o evento literário no final do mês passado. Eu estava empolgado, pois era a primeira feira do livro em São Paulo. Vale lembrar, que eu visito a versão carioca desse delicioso evento desde 1993, quando eu ainda era um pirralho. Desde então eu compareci a TODAS as edições, perdendo apenas a de 2005 por motivos de força maior. Mesmo com todo o frenesi que precedia o evento paulistano, foi sentido um gostinho de decepção antes mesmo de pegar o ônibus.

A coisa toda já começou meio broxante por eu ser um dos únicos do 3º ano de Letras a ter disposição para ir ao evento. Foi vergonhoso ver os ônibus contratados apinhados de estudantes de Administração, Economia e até mesmo Engenharia rumo a capital paulista, enquanto os assentos ocupados por estudantes de Letras contavam-se nos dedos e uma mão. Uma lástima. Resultado: foi uma aventura solitária, e só por isso já perdera metade da graça em relação as anteriores.

Chegamos ao Anhembi antes da feira começar. Acumulava-se frente aos portões de entrada, centenas de pessoas, e ali mesmo me perdi do grupo. Logo na primeira rua, deu pra perceber que a Bienal Paulistana carecia do charme de sua irmã carioca. Ao contrário do evento realizado no Rio Centro, todos os stands, de todas as editoras, localizavam-se em um único e imenso pavilhão, o que deixava o visitante um pouco confuso e perdido. Pareceu que a feira carioca é maior (talvez por ser fragmentada em diversos pavilhões) e gozava de mais variedades e atrativos. Mesmo assim me deparei com algumas coisas realmente legais e outras apenas curiosas.

O stand da Fundação Volkswagen exibia uma réplica reduzida do novo modelo de seu Gol, com uns noventa centímetros de altura apenas (aposto que muitas crianças pediram aos pais um desses).

Mais adiante, sendo fotografado por um punhado de curiosos, estava o suposto maior livro do mundo, com altura de um homem adulto. Tratava-se de uma versão king size do espetacular livro que coloriu minha imaginação no final dos anos 80 e início de 90: O Pequeno Príncipe.

Eu já estava perdendo as esperanças de assistir a alguma palestra interessante ou algo do gênero, quando me deparei com uma excelente entrevista com um expert na obra do genial Machado de Assis, que respondeu a muitas dúvidas que eu tinha a respeito da obra Machadiana, mas também gerou novas.

Quando avistei o stand da editora Martins Fontes, pensei “Oba! Vou comprar a obra do Tolkien por uma pechincha”. Ledo engano. Minha vontade de ter o volume único d´ O Senhor dos Anéis se desfez quando o vendedor me disse que custava “só” R$120,00. Um pouco desiludido, segui para a Saraiva, e lá consegui comprar o mesmo livro por R$ 55,00.

Estava na hora de procurar algum material pro meu bom e velho RPG, e achei o stand da Devir. Imediatamente adquiri o Livro do Jogador para Faerûn, e apenas isso. A Devir tava fraca esse ano: não tinha nenhum Monster Manual, e pouca variedade de títulos importados, bem como a total ausência das cobiçadas D&D miniatures. Sem mais nada para me prender a atenção, saí dali.

Lá pelas quatro horas da tarde cheguei ao stand da Daemon Editora. Lá troquei algumas palavras com o autor dos RPGs Trevas e Arkanun, Marcelo Del Debbio, e também com o Norson; mas foi coisa rápida. Foi apresentado aos dados fabricados pela empresa, e embora tenha achado alguns mal acabados, gostei da maioria por serem de cores inusitadas e bonitas. Tinha dado para todos os gostos. Del Debbio estava lançando sua Enciclopédia de Mitologia, e marcava presença no evento vestido com um manto negro e capuz, o que na minha opinião ficou engraçado. Outros fantasiados estavam presentes, e até um harpista improvisava uns acordes para o público.

A Bienal do Livro de São Paulo chegava ao fim pra mim, deixando um leve gosto de decepção. Estava na hora de voltar pro ônibus e viajar de volta pra casa. Resta agora esperar pela minha querida feira no Rio de Janeiro, em 2009.

domingo, 17 de agosto de 2008

Altar de Selune

Saudações amigos alfarrabistas. Após um longo período sem postar por estar ocupado com casamento, casa e lua-de-mel; venho através desse post, anunciar meu novo blog exclusivo de RPG, mais especificamente sobre minha campanha de Dungeons & Dragons ambientada no cenário de Forgotten Realms. Para inaugurar o blog, postei um resumão sobre a trejetória do grupo, desde o inicio da campanha, até as aventuras atuais. Futuramente serão publicados os perfis de cada jogador, fichas dos personagens e seus respectivos backgrounds, resumos de aventuras, alguns contos e ocasionalmente material de campanha inédito.

O nome do blog é Altar de Selune. Clique no link abaixo e aproxime-se do altar. Mas faça silencio! A deusa da lua não gosta de barulho.
http://www.altardeselune.blogspot.com/

sábado, 2 de agosto de 2008

Clichês da Comédia Romântica





Eu não gosto de comédias românticas. Assisto uma ou outra, muito esporadicamente. Sempre considerei a maioria - existem as exceções, é claro – dessas produções exaustivamente repetitivas. Mas ainda assim, bem lá no fundo, eu ainda tinha esperança de encontrar algum filme do tipo que me surpreendesse.

Passeando com a minha musa pelo shopping aqui da minha cidade, vimos o pôster de uma comédia estrelada por Cameron Diaz e Ashton Kutcher. Tratava-se de Jogos de Amor em Las Vegas.

Fui intimado a assistir ao filme com minha amada, que estava empolgadíssima. Para minha surpresa, achei o filme legal, e até dei algumas risadas, apesar do Ashton Kutcher. Porém, mesmo assim, minhas esperanças de assistir a algo novo não se concretizaram. O longa soa exatamente como uma penca de filmes do gênero, que pipocam por aí todos os meses. Essas semelhanças com outras comédias românticas levaram-me a traçar as diretrizes e elementos comuns à grande maioria de produções do tipo. Vamos a eles.

A estrutura da história, na maioria esmagadora das vezes, é bem básica, chegando a ser sem-vergonha de tão simples. Dividiremos o esqueleto da comédia romântica em etapas:

1. Duas pessoas que aparentemente não tem nada a ver uma com a outra e dificilmente dariam certo juntas, se conhecem em uma situação inusitada.

2. Depois de alguns pequenos conflitos que servem pra criar situações cômicas, o casal protagonista se entende, e inicia uma relação instável. Essa instabilidade é também uma ferramenta, para criar mais situações que tentam fazer o espectador rir. Mas nem sempre funciona. É aqui que o par principal vive uma variedade de acontecimentos mirabolantes que servem pra encher lingüiça.

3. Acontece alguma desavença entre os pombinhos que os faz brigar e separar-se por um tempo. O motivo geralmente é um pequeno deslize de fidelidade de um deles (muitas vezes o pivô é um romance antigo).

4. Segue então a parte mais chata do filme: a parte triste – da fossa e da dor-de-cotovelo. Obviamente, são raros os momentos cômicos nessa etapa.

5. A reconciliação. A essa altura, o mal-entendido é esclarecido, ou a traição é perdoada. Um se declara pro outro e ambos se beijam calorosamente. Normalmente, nesse ponto, algum personagem solta uma piadinha beeem idiota do tipo “Ei gente! Eu estou aqui! To falando com vocês! Alô?”.

6. O desfecho mostra os protagonistas em seu momento felizes para sempre. Nessa etapa final o(s) personagem(s) coadjuvante(s), que invariavelmente é um solteirão mulherengo, também encontra sua cara metade. No último instante antes dos créditos, acontece uma piadinha derradeira.


Assim como o roteiro, os personagens da história também seguem um padrão. Um dos protagonistas (ou ambos) sempre tem um “melhor amigo” engraçado que é quem faz o espectador rir de verdade. O melhor amigo pode aparecer sozinho ou em par: um amigão do peito pro homem e uma amiga-confidente pra mulher. Nesse último caso, os coadjuvantes também se apaixonam e terminam a trama, juntos.

Os protagonistas SEMPRE são pessoas totalmente opostas. Invariavelmente, um deles é certinho e organizado (algumas vezes tímido), enquanto o outro é impulsivo, despreocupado e relaxado.

O que? Você já viu essa história em algum lugar antes caro leitor? - Sim, com certeza! Em muitos e muitos filmes, e, provavelmente, vai continuar vendo – na grande maioria das comédias românticas que assistir futuramente. Mas quando isso acontecer, faça o teste. Você vai encontrar quase todos os elementos descritos acima.

domingo, 20 de julho de 2008

Why so Serious?





Batman: O Cavaleiro das Trevas

Atenção! O texto a seguir não é uma resenha.

Sou incapaz de resenhar um filme assistindo-o apenas uma vez; preciso de uma segunda dose para analisar os detalhes, e pescar as possíveis falhas. Sendo assim, encare as linhas a seguir, apenas como minhas primeiras impressões de Batman: O Cavaleiro das Trevas.

Desde 2005, com Batman Begins, o diretor Christopher Nolan já havia conquistado o respeito e admiração dos fãs, ao mostrar-lhes a tão aguardada versão realista e (realmente) sombria do universo do homem-morcego, presente em clássicas HQs do personagens como: Ano Um, Cavaleiro das Trevas e Piada Mortal. Os fãs deleitaram-se ao ver na tela, a Gothan de seus sonhos: corrupta, decadente, violenta e muito perigosa. Nolan não só repete, como também acentua essas características em “O Cavaleiro das Trevas”, e vai além.

O Coringa, de “O Cavaleiro das Trevas” é, sem dúvida, o melhor de todos. Será muito difícil surgir alguém capaz de interpretar o palhaço do crime de maneira tão psicótica como fez o falecido Heath Ledger. O jovem ator consegue transformar um clássico personagem dos quadrinhos, em um psicopata, que desde já, ascende rumo ao patamar de vilão clássico do cinema, juntos aos célebres Hannibal Lacter e Norman Bates. Ledger, com seus trejeitos, aliado a inteligentíssimos diálogos, fazem do pior inimigo do homem-morcego, um verdadeiro emissário do caos - como é dito pelo próprio palhaço do crime.

O Batman de Christian Bale aparece apagado, mas não por culpa do ator. Afinal, dividir os holofotes com Heath Ledger na pele do Coringa não é tarefa das mais fáceis. Mas ainda assim, é o melhor já visto no cinema. Minha única ressalva fica por conta da voz rouca forçada que Bruce Wayne faz quando veste o uniforme. Tudo bem que ele faz essa voz pra provocar medo nos bandidos, mas convenhamos: precisa falar com aquela voz de garganta inflamada mesmo quando conversa com Alfred? Alguém compre rápido um bat halls de menta!

Se comparado ao filme anterior, “O Cavaleiro das Trevas” mostra uma preocupação ainda maior em transmitir um universo real e tangível. Batman Begins continha elementos mais fantásticos, como treinamentos ninja e visões mirabolantes causadas por um gás alucinógeno que chega a enlouquecer toda Gothan City. No novo filme, porém, não temos nada disso. Não temos aquele teor “épico” forçado visto no final filme anterior, com todas aquelas alucinações. Trata-se de um filme sobre terrorismo, sobre o conflito entre heroísmo e vilania e, acima de tudo, entre ordem e caos.


sábado, 12 de julho de 2008

O Senhor dos Anéis - Cenas que você nunca viu.



Saudações amigos alfarrabistas!

Recentemente, eu estava assistindo “O Retorno do Rei”, terceiro filme da trilogia “O Senhor dos Anéis”, quando me dei falta de alguns momentos chaves da história, que foram cruelmente editados, pois o filme já era suficientemente extenso. Lamenta-se, porém, que tais cenas não foram incluídas sequer nos extras dos DVDs. Apenas alguns sortudos conseguiram assisti-las quando a trilogia foi exibida no final de 2003 nas salas do Cinemark, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.

Eu sempre me perguntava o que teria acontecido com o mago branco, Saruman, imaginava como teria sido o encontro entre Gandalf e o Rei Bruxo de Angmar, senhor dos Nasgûl e o mais poderoso servo de Sauron, o senhor do escuro, entre outros eventos que não aparecem na trilogia de Peter Jackson.

“Ah, mas eu já sei o que acontece! Eu li toda a obra do Tolkien” – desdenhariam alguns. Tudo bem. Pode ser. Mas mesmo assim não deixa de ser interessante assistir a versão cinematográfica desses acontecimentos, até então quase inéditos por essas bandas.

Resolvi procurar então, no abençoado Youtube, as cenas cortadas. Como não poderia deixar de ser, as encontrei sem grandes dificuldades.

Abaixo encontram-se algumas dessas cenas deletadas. Posteriormente publicarei mais, mas por enquanto fiquem com a morte de Saruman, e o contronto entre Gandalf e o Senhor dos Nasgûl.

Notem, que o final do Saruman está bem diferente daquele visto no livro de Tolkien. O mago branco não ataca o condado, e morre em sua torre.



domingo, 6 de julho de 2008

Primórdio do Cinema.

Um dia desses, revirando minhas coisas, encontrei uma apostila do meu curso de Cinema, que iniciei em 2004 e abandonei logo após o término do primeiro período. Era uma apostila sobre história do cinema e nela, como não poderia deixar de ser, tinha um capítulo sobre os pais do cinema: os irmãos Lumiere. Me lembrei imediatamente de uma aula em que pude assistir ao primeiro filme da história.

Depois que abandonei o curso, pensei varias vezes em como seria interessante rever esse filme, até que recentemente, pensei novamente no assunto e resolvi procurar no youtube. E é claro que eu encontrei. Se lá podemos encontrar até vídeos de anônimos bêbados pagando mico em boate, por que não encontraríamos o primeiro filme de todos os tempos.

Louis e Auguste Lumiere patentiaram na França, em 1895, um invento mágico: o cinematógrafo. A invenção era capaz de capturar e reproduzir “fotografias animadas”. Ignorando o potencial artístico de sua criação, os Lumiere viam a máquina apenas como um instrumento científico, jamais imaginando que tinham dado o pontapé inicial na criação de uma nova espécie de arte, a sétima arte. O Cinema somente ganhou contornos artísticos com Georges Mélièis, tido como o pai do cinema de ficção. Mas isso já é outra história.

O primeiro filme da História, produzido pelos irmãos Lumiere chamava-se L'Arrivée d'un train en gare de la Ciotat, e mostrava um trem chegando à uma movimentada estação.

No dia 28 de Setembro de 1895, aconteceu a primeira sessão de cinema do mundo, na primeira sala de cinema de todos os tempos, chamada Éden. Diz a lenda, que quando o filme foi exibido, a ingênua platéia assustou-se e pulou em suas cadeiras, achando que o trem sairia da tela e os atropelaria.

Veja a seguir o primeiríssimo filme do mundo: L'Arrivée d'un train en gare de la Ciotat

Annabel Lee


Nessa bimestre, as aulas de Literatura Norte-Americana foram totalmente voltadas ao Romantismo de Edgar Alan Poe.

Envergonho-me em confessar que conhecia apenas os contos de Poe, ignorando toda sua obra poética. Sempre tive um preconceito tolo e bitolado contra poemas em língua inglesa.

Inevitavelmente, ao estudar o gênio do Romantismo norte-americano, deparei-me com seu famoso poema Annabel Lee, e arrependi-me amargamente por nunca ter me interessado em le-lo antes, assim como o resto das obras em verso de Poe. Remediarei isso urgentemente.

Abaixo segue o belíssimo poema Annabel Lee (em inglês)

Annabel Lee

It was many and many a year ago,
In a kingdom by the sea,
That a maiden there lived whom you may know
By the name of ANNABEL LEE;
And this maiden she lived with no other thought
Than to love and be loved by me.

I was a child and she was a child,
In this kingdom by the sea;
But we loved with a love that was more than love-
I and my Annabel Lee;
With a love that the winged seraphs of heaven
Coveted her and me.

And this was the reason that, long ago,
In this kingdom by the sea,
A wind blew out of a cloud, chilling
My beautiful Annabel Lee;
So that her highborn kinsman came
And bore her away from me,
To shut her up in a sepulchre
In this kingdom by the sea.

The angels, not half so happy in heaven,
Went envying her and me-
Yes!- that was the reason (as all men know,
In this kingdom by the sea)
That the wind came out of the cloud by night,
Chilling and killing my Annabel Lee.

But our love it was stronger by far than the love
Of those who were older than we-
Of many far wiser than we-
And neither the angels in heaven above,
Nor the demons down under the sea,
Can ever dissever my soul from the soul
Of the beautiful Annabel Lee.

For the moon never beams without bringing me dreams
Of the beautiful Annabel Lee;
And the stars never rise but I feel the bright eyes
Of the beautiful Annabel Lee;
And so, all the night-tide, I lie down by the side
Of my darling- my darling- my life and my bride,
In the sepulchre there by the sea,
In her tomb by the sounding sea.

Edgar Allan Poe

sábado, 28 de junho de 2008

Olá pessoal. Quem leu a trilogia do Vale do Vento Gélido e é fã de D&D, especialmente Forgotten Realms vai adorar esse vídeo! Trata-se da jornada de Drizzt, Bruenor, Wulfgar e Regis rumo ao Salão de Mithral. Pelo menos essa era a idéia. Porém, no caminho deles surge Artemis Entreri, arqui-rival de Drizzt

Super Size Me



Super Size Me. EUA, 2004. Documentário. 98 min. Direção: Morgan Spurlock



Quando ouvimos falar em Super Size Me, documentário dirigido pelo americano Morgan Spurlock, um monte de palavras fortes nos vem à cabeça: polêmica, denuncia, Mc Donald´s, obesidade, saúde, choque, etc. Talvez a indicação ao Oscar de melhor documentário de 2004, e a boa recepção por parte do público em festivais ao redor do globo sejam os fatores responsáveis pela polêmica ao redor do filme. Bem, na verdade, ao ver o filme, não vemos nada de tão chocante e polêmico.

Spurlock é uma cria do aclamado Michael Moore, e Super Size Me parece seguir a trilha dos sucessos Tiros em Columbine e 11/9. Porém, esbarramos aqui com um pequeno problema: Moore relatava algo realmente inédito e importante em seus filmes como crianças usando armas de fogo, o massacre de Columbine, as falcatruas de George W. Bush e outras tantas. Morgan, por outro lado, não nos mostra quase nada de novo, e ainda faz um estardalhaço sobre um assunto que todos já conhecem: fast food é nocivo à saúde.


Até o mais ingênuo sabe dos malefícios desse tipo de alimento. Todos sabem que Mc Donald´s engorda, aumenta colesterol, ataca o fígado e todas essas coisas. Tudo o que o diretor faz, é servir de cobaia se “envenenando” com fast-food durante um mês sob observação médica. Morgan Spurlock se submeteu a rigorosos exames antes, durante e depois da dieta, apenas pra dar nomes científicos aos males que todos já conhecem. Um esforço realmente desnecessário, uma vez que qualquer Globo Repórter da vida, ou entrevista com Drauzio Varela nos mostra isso quase todos os dias.

O mérito da produção está em mostrar a alimentação servida nas escolas americanas, tão nocivas à saúde dos alunos, quanto qualquer lanche no Mc Donald´s. Morgan é feliz em trazer à tona esse problema pouco conhecido (ou ignorado) pelas pessoas. E só.


A impressão final é de um filme óbvio, previsível e desnecessário. Provavelmente muitas pessoas ao terminar de assistir Super Size Me pensaram “Puxa! É isso? Tanto barulho por isso? ”

Dogville









Nas Lojas Americanas daqui, costuma ter, lá no fundo do estabelecimento, uma piscina dessas de 1000 litros recheada de filmes em DVD. A maioria dos títulos ali encontrados é de filmes de ação que vão do ruim ao péssimo. Entre montes e montes de coisas estreladas por Steven Segal, Van Damme , Marc Dacascos e afins é possível encontrar, com um pouco de paciência e boa vontade, algumas pérolas. Já achei ali preciosidades como Cães de Aluguel e Trainspotting. Sábado passado, lá estava eu procurando por coisas boas perdidas ali no meio, e eis que encontro Dogville. Um filme obscuro que eu tive a oportunidade de assistir alguns anos atrás.

Esta produção, escrita e dirigida pelo dinamarquês Lars Von Trier, se mostra revolucionária tanto no aspecto técnico quanto no artístico. Ao contrário das grandes produções recheadas de efeitos especiais primorosos, cenografia incrivelmente detalhada e outros recursos que acabam, muitas vezes, camuflando uma trama pobre e interpretações fracas, temos aqui um total abandono de tais elementos. O diretor, mostra que é possível fazer um bom filme sem orçamentos astronômicos. Dogville é corajoso porque abdica quase totalmente de elementos cenográficos. A vila que serve de pano de fundo pro filme e dá nome ao mesmo, é toda desenhada no chão preto de um estúdio, como se fossem gigantescas plantas de arquitetura. Isso demonstra uma enorme confiança no excelente roteiro, que por si só, prende o espectador do inicio ao fim dispensando qualquer cenário. Tudo depende apenas da narrativa primorosa e do elenco pra lá de competente. O resto é resto.

Uma observação mais atenta mostra certa semelhança com a estrutura narrativa de um romance literário. O roteiro é dividido em nove capítulos, um prólogo e um epílogo, como em muitos livros. O narrador, em off, nos remete à leitura de um romance em que o “narrador onipresente”, que observa tudo de fora e enxerga o íntimo dos personagens expondo seus pecados e segredos.

Os mais atentos poderão traçar um paralelo com a obra de Machado de Assis. Sabe-se que esse autor retrata em suas obras o ser humano em detalhes, dissecando sua alma e revelando seus podres. A visão pessimista de Machado em relação à humanidade, de certa forma, projeta sua sombra em Dogville: uma humanidade chantagista, pervertida, egoísta e corrupta aparece no filme, tal como nos livros do consagrado autor brasileiro. Obviamente o célebre escritor não serviu de inspiração para a o filme, tão pouco o diretor Lars Von Trier sequer tenha ouvido falar das clássicas obras naturalistas de nossa literatura. Porém, a visão pessimista em relação ao homem está presente em ambas.

O filme se passa nos Estados Unidos, nos anos 30. Conta a história de uma cidadezinha , situada em um ponto quase inacessível das Montanhas Rochosas, que acolhe relutantemente Grace, uma bela fugitiva, vivida por Nicole Kidman. O povo do lugarejo aceita, esconder a moça dos mafiosos e da polícia em troca de pequenos serviços. Porém, quando às autoridades pregam nas casas de Dogville um cartaz de “procura-se”, as pessoas do lugarejo começam a mostrar seus lados cruéis, exigindo mais trabalho da forasteira por mentirem pra policia. Grace (Kidman) se torna então uma escrava da cidade, passando por todos os tipos de humilhações possíveis, chegando ao ponto, de ser violentada por todos os homens da aldeia e com isso, virando alvo da ira das mulheres locais.

No clímax, o roteiro mostra seu brilhantismo ao aludir Grace com Cristo e os gangsters com Deus. A fugitiva dá a entender que os moradores da cidadela merecem serem perdoados, por não serem responsáveis por suas maldades. Algo parecido com o que Cristo disse a Deus na cruz: “Pai, perdoai-vos, pois não sabem o que fazem”. O trama, porém, conclui de uma maneira não tão clemente como na Bíblia. A protagonista chega à conclusão que aquelas pessoas são podres, e que o mundo seria um lugar melhor se a cidade fosse riscada do mapa.

Dogville prova que apenas um bom roteiro e um bom elenco são suficientes, e que mesmo com baixo orçamento, é possível fazer uma obra com qualidade.

Altamente recomendável.
Saudações amigos.

Códices e Alfarrábios nasceu através da minha vontade de gozar das ferramentas do blogger. Na verdade esse novo blog é uma nova encarnação do antigo "O Limbo". No Limbo a coisa era bastante relaxada, sem a menor preocupação com a qualidade. Se minha agenda permitir, pretendo fazer do códice um espaço pra textos mais caprichados, mas é provavel que ocasionalmente a coisa fique mais relaxada também. Tudo vai depender se eu estiver com saco ou não.

Como estudante de Letras, esse espaço servirá como treinamento pra minha escrita e desenvoltura do meu estilo. Ocasionalmente, postarei trabalhos acadêmicos que tenham me deixado satisfeito, textos sobre RPG, sobre minha campanha de Forgotten Realms. Resenhas de filmes, cds e livros também serão uma constante, assim como postagens de humor. Futuramente postarei também textos literários de minha autoria, e também (quem sabe?) de amigos meus. Bom, por enquanto é isso. Espero que curtam.

Até a próxima.