Eu não gosto de comédias românticas. Assisto uma ou outra, muito esporadicamente. Sempre considerei a maioria - existem as exceções, é claro – dessas produções exaustivamente repetitivas. Mas ainda assim, bem lá no fundo, eu ainda tinha esperança de encontrar algum filme do tipo que me surpreendesse.
Passeando com a minha musa pelo shopping aqui da minha cidade, vimos o pôster de uma comédia estrelada por Cameron Diaz e Ashton Kutcher. Tratava-se de Jogos de Amor em Las Vegas.
Fui intimado a assistir ao filme com minha amada, que estava empolgadíssima. Para minha surpresa, achei o filme legal, e até dei algumas risadas, apesar do Ashton Kutcher. Porém, mesmo assim, minhas esperanças de assistir a algo novo não se concretizaram. O longa soa exatamente como uma penca de filmes do gênero, que pipocam por aí todos os meses. Essas semelhanças com outras comédias românticas levaram-me a traçar as diretrizes e elementos comuns à grande maioria de produções do tipo. Vamos a eles.
A estrutura da história, na maioria esmagadora das vezes, é bem básica, chegando a ser sem-vergonha de tão simples. Dividiremos o esqueleto da comédia romântica em etapas:
1. Duas pessoas que aparentemente não tem nada a ver uma com a outra e dificilmente dariam certo juntas, se conhecem em uma situação inusitada.
2. Depois de alguns pequenos conflitos que servem pra criar situações cômicas, o casal protagonista se entende, e inicia uma relação instável. Essa instabilidade é também uma ferramenta, para criar mais situações que tentam fazer o espectador rir. Mas nem sempre funciona. É aqui que o par principal vive uma variedade de acontecimentos mirabolantes que servem pra encher lingüiça.
3. Acontece alguma desavença entre os pombinhos que os faz brigar e separar-se por um tempo. O motivo geralmente é um pequeno deslize de fidelidade de um deles (muitas vezes o pivô é um romance antigo).
4. Segue então a parte mais chata do filme: a parte triste – da fossa e da dor-de-cotovelo. Obviamente, são raros os momentos cômicos nessa etapa.
5. A reconciliação. A essa altura, o mal-entendido é esclarecido, ou a traição é perdoada. Um se declara pro outro e ambos se beijam calorosamente. Normalmente, nesse ponto, algum personagem solta uma piadinha beeem idiota do tipo “Ei gente! Eu estou aqui! To falando com vocês! Alô?”.
6. O desfecho mostra os protagonistas em seu momento felizes para sempre. Nessa etapa final o(s) personagem(s) coadjuvante(s), que invariavelmente é um solteirão mulherengo, também encontra sua cara metade. No último instante antes dos créditos, acontece uma piadinha derradeira.
Assim como o roteiro, os personagens da história também seguem um padrão. Um dos protagonistas (ou ambos) sempre tem um “melhor amigo” engraçado que é quem faz o espectador rir de verdade. O melhor amigo pode aparecer sozinho ou em par: um amigão do peito pro homem e uma amiga-confidente pra mulher. Nesse último caso, os coadjuvantes também se apaixonam e terminam a trama, juntos.
Os protagonistas SEMPRE são pessoas totalmente opostas. Invariavelmente, um deles é certinho e organizado (algumas vezes tímido), enquanto o outro é impulsivo, despreocupado e relaxado.
O que? Você já viu essa história em algum lugar antes caro leitor? - Sim, com certeza! Em muitos e muitos filmes, e, provavelmente, vai continuar vendo – na grande maioria das comédias românticas que assistir futuramente. Mas quando isso acontecer, faça o teste. Você vai encontrar quase todos os elementos descritos acima.